sempre tive um medo incontrolável de ser traída.
embora soubesse secretamente que um dia também iria passar por isso, o meu desejo de que tal não acontecesse fazia-me acreditar que era possível que nunca vivesse essa dor.
vi a minha mãe ser traída, bem como todas as suas amigas, as minhas tias... só um casal, das toneladas que conheço, não teve esse episódio na película que constroem enquanto partilham as suas vidas.
pensei que a dor fosse maior.
talvez ainda esteja anestesiada, sei lá.
ainda há dias pensei que estava grávida dele; fiquei tão triste quando soube que não... hoje concretizou-se na minha vida o provérbio "Deus escreve direito por linhas tortas". ainda bem que não tenho um filho dele dentro de mim...
não fiz a peixeirada que sempre me via a fazer quando me imaginava nessa situação.
vi o carro dela estacionado no jardim da casa dele. os carros estrategicamente estacionados, numa vã tentativa de esconder o óbvio.
toquei à campainha.
abriu-me a porta de boxers.
o meu coração nunca bateu tão depressa.
e eu nunca estive tão calma.
não verti uma lágrima.
só me saíram frases bonitas.
não o julguei, não o ataquei.
só lhe perguntei "porque é que não me disseste? escusava de ter sabido assim..."
destilei amor por todos os poros, a minha voz branda, macia, terna, doce, meiga.
não sei porquê.
não sei porque me comportei como uma senhora.
não sei porque não lhe bati.
não sei porque não destruí o carro dela.
não sei porque não matei ninguém.
fui tão correcta...
fui tão grande... tudo aquilo me pareceu pequenino, muito abaixo de mim, como se eu estivesse no topo do arranha-céus e o resto lá no fundo.
"não é ódio o que sinto por ti. o meu amor é o mesmo e vai continuar a ser. fizeste a tua escolha e só espero que seja a mais acertada. desejo profundamente que quem quer que escolhas para estar ao teu lado te possa ver com os mesmos olhos que eu vejo e reconheça em ti a pessoa maravilhosa que és."
pedi-lhe que me prometesse que ia tomar conta de si, que ia ser mesmo feliz, que não ia deixar que a vida o tornasse num daqueles homens que ele tanto critica.
agradeci-lhe por me ter feito tão feliz tantas vezes.
ele não disse nada.
"não dizes nada? não achas que eu merecia uma despedida decente?"
a resposta:
"não consigo dizer nada. não vou dizer nada. não te vou dizer adeus."
quis abraçá-lo.
e disse-lhe.
também disse que não o conseguia fazer porque tinha medo que ele não cheirasse a ele.
que preferia guardá-lo na minha memória com o cheiro bom dele.
que ele era a pessoa com quem eu tinha gostado mais de ter ao meu lado quando acordava.
e não sei porque lhe disse tudo isto.
não sei porque fiz uma declaração de amor tão sincera, bonita e profunda
quando ele me estava a fazer exactamente o contrário.
e tenho medo de ir dormir, porque o acordar amanhã vai ser horrível.
vou abrir um olho e pensar: o que me chateou tanto ontem? deitei-me triste... ohh nãããoooooo!
e vou querer voltar a dormir e não vou conseguir porque a minha cabeça não vai parar.
e não sei quanto tempo vou estar assim.
até eu achar que o esqueci
e ele voltar outra vez
com a fasquia ainda mais elevada
para me convencer que cresceu.
domingo, 25 de outubro de 2009
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